Muito Além da Vida | T01E05: "De Volta ao Recomeço" [SERIES FINALE]


Uma obra de: Ricardo Frugoli

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5º episódio


“De Volta ao Recomeço”

ÂNGELO:
É isso. Endoidei também. Pronto. Mas tá pouco ainda.
Fala o resto. Já sei. ( olha para cima e grita ).
Ô Administraçãoooo...pode liberar o resto pro meu irmão
me contar. Eu tô pronto! ( fica se lamentando )


ALBERTO:
Olha como são as coisas. Eu sou a biba aqui e você que
fica dando chilique. Mas que papelão. Se orienta rapaz!


ÂNGELO:
Eu que já era um nada, agora sou um menos nada.


ALBERTO:
Ah não! Espírito com crise existencial.
Mas era o que faltava...


ÂNGELO:
Já que eu não existo mais, não tou nem ai.
(cruza os braços e vira de costas)


ALBERTO:
Ô meu irmão...(fala bem tranqüilo, em tom paternalista
mas irônico)...muita informação?


ÂNGELO:
É.(ainda de costas)
E tudo isso pra nada.


ALBERTO:
Nada porque?


ÂNGELO:
Tudo isso que você me contou me fez perceber uma coisa.
Eu desperdicei a minha vida.


ALBERTO:
As coisas não são bem assim. Mesmo isso estava no Plano.
Pense nos desdobramentos da coisa.ok?
Sua filha precisava nascer, e a Carmen precisava passar
pela experiência de ser mãe. A falta de um marido e com
uma filha para criar colocou a moça nos eixos. Sua filha
se casou e teve sua neta ao lado do marido. Ou seja,
a partir do desequilíbrio de alguns a espiritualidade
promoveu o equilíbrio de outros.


ÂNGELO:
E agora é a minha vez de se equilibrar.


ALBERTO:
Isso mesmo. Sinal que já está aprendendo alguma coisa
aqui com a gente, uai.


ÂNGELO:
Uai? Mas nós não estamos em uma cidade espiritual?


ALBERTO:
Sim, estamos.


ÂNGELO:
E até aqui em cima tem sotaque?


ALBERTO:
“Uai” (gesticula haspas), tem sim.
Mas tem uma razão pra isso. Onde você vivia?


ÂNGELO:
Em BH, uai


ALBERTO:
Onde você morreu?


ÂNGELO:
Em BH, uai.


ALBERTO:
Então não faz sentido que você fosse atendido
e acolhido o mais próximo possível?


ÂNGELO:
Faz, uai.


ALBERTO:
Entenda, a vida aqui em cima é como a lá de baixo, e
muitos dos detalhes são mantidos para facilitar a
convivência neste outro plano. Se você era brasileiro,
mineiro, porque iria mudar isso quando morresse? Assim
também ocorre com todos os outros, que moram em outras
cidades, outros países e falam outras línguas.
Faz parte da nossa identidade, na encarnação mais atual
que tivemos.


ÂNGELO:
Achei que o mundo espiritual falasse uma só língua,
como um arranjo de guitarra que eu componho
e pessoas de todos os lugares entendem.


ALBERTO:
Mas nós temos uma linguagem universal.
Quando praticamos o amor, a caridade,
todos entendem.


ÂNGELO:
Taí um bom argumento.


ALBERTO:
Pois é. Mas voltando às cenas
dos seus próximos capítulos...


ÂNGELO:
Fala, fala, já tá me deixando ansioso.
Tem uma pipoquinha pra acompanhar não?


ALBERTO:
A gente pode voltar onde você estava antes e dar uma
olhada nisso . Tá a fim?( aponta o dedo p/ baixo )


ÂNGELO:
Qué não. Aqui tá óóótimo. Continua.


ALBERTO:
Bom, vamos repassar. Você já sabe o que aconteceu com
você, porquê aconteceu, porque ficou este tempo onde
estava, o que aconteceu na Terra enquanto estava naquele
outro lugar..


ÂNGELO:
Sim, sim, sim e sim.


ALBERTO:
A boa notícia é que a pior parte passou. Vamos portanto
ao seu tratamento daqui pra frente.
(enquanto fala ele pega uma prancheta onde estão
relacionados os itens do tratamento)
Vejamos o que tem para você: Sessão de vibrações e
exercícios pela manhã, trabalho comunitário à tarde
e estudos à noite. É isso.


ÂNGELO:
Perai, estudos?


ALBERTO:
Sim, estudos de conhecimento espiritual.
Para seu desenvolvimento.


ÂNGELO:
E este lance de trabalho, o que eu vou fazer?


ALBERTO:
Bom, vamos ver qual atividade você pode se identificar
para contribuir na nossa comunidade. No começo você vai
alternando entre várias atividades até ver onde se
encaixa e ficar em definitivo.
Trabalho é o que não falta.


ÂNGELO:
É que quando você falou em tratamento achei que eu ia
ficar aqui deitadinho, curtindo meu lençolzinho....


ALBERTO:
Mas que bonito. Mas saiba que seus dias de dormir de dia
e agitar de noite já eram. Para recuperar suas forças,
se equilibrar e inclusive evoluir, você precisa é de
atividade da boa.


ÂNGELO:
Tá certo, mas vem cá. Você vai me ajudar?
Sou novo aqui.


ALBERTO:
Claro que sim. Pode deixar que eu te apresento ao
pessoal todo. Você vai gostar são todos gente pra cima
(fala enquanto aponta o dedo p/ cima), entende ?


ÂNGELO:
ah há há.(irônico) Entendi. Sabe de uma coisa?


ALBERTO:
O que?


ÂNGELO:
Essa conversa toda...Me bateu uma baita fome.


ALBERTO:
É natural.


ÂNGELO:
Sobrenatural né? Não tenho mais um corpo.


ALBERTO:
Você tem um corpo fluídico, que funciona quase do mesmo
jeito que seu corpo físico funcionava antes, lá na Terra
Você gasta energia e precisa repor a energia que gastou.
Precisa se alimentar.


ÂNGELO:
Agora falou uma palavra que eu entendo.


ALBERTO:
Vamos lá então. Te levo no refeitório.


ÂNGELO:
Que bom que vocês chamam refeitório de refeitório mesmo.


ALBERTO:
E era para chamar de quê?


ÂNGELO:
Alguma coisa assim mais “espiritual”(gesticula aspas)
tipo: “centro de reabastecimento energético”.


ALBERTO:
Engraçadinho.
Mas nós temos uma coisa assim aqui.
Com outra função.


ÂNGELO:
Antes de sair, me tira uma outra curiosidade.


ALBERTO:
O que?


ÂNGELO:
Nós vamos comer. Co-mer.
Eu vou mastigar e engolir,certo?
Ou é de outro jeito?


ALBERTO:
Você vai servir os alimentos em um prato, sentar em uma
cadeira, colocar o prato sob a mesa e tirar porções da
comida com um garfo. Algumas dessas coisas parecem
diferentes de como fazia lá na Terra?


ÂNGELO:
Até agora não, porque você tá pulando um item
importante: a comida. O que é que se come aqui?


ALBERTO:
Isso não vou responder. Porque estragar a supresa?
Mas fica tranqüilo maninho, você sobrevive. Garanto.
Até porque você já tá morto mesmo.


ÂNGELO:
É, eu acho vou correr este risco.


ALBERTO:
Ok, então vamos.


ÂNGELO:
Mas será que eu aguento levantar e ir até lá?


Alberto posiciona suas mãos para frente, fecha os olhos
e permanece concentrado por alguns instantes.    


ALBERTO:
Pronto. Transferi um pouco de energia
para que tenha forças suficientes.
Podemos ir tranquilos.


Alberto aguarda Ângelo se levantar da cama
Os 2 irmãos saem do quarto.
  
Após a refeição de Ângelo os 2 irmãos voltam
para o quarto.                                                              


ÂNGELO:
Ah não. Mas você me enganou hem?


ALBERTO:
Enganei porque?
Você não tava morreeendo de fome?


ÂNGELO:
Tava, mas...


ALBERTO:
Você não co-meu?


ÂNGELO:
Mas eram umas gosmas coloridas...


ALBERTO:
Não gostou?


ÂNGELO:
Até gostei, mas faltou assim, como vou dizer,
um apelo visual, sustança, entende?
Parecia que estava comendo massinha.


ALBERTO:
Ah, tem dó. Com o tempo você vai entender que nós não
precisamos dos mesmos estímulos visuais tão comuns na
nossa vida lá na Terra. A forma e a aparência aqui são
secundários, o conteúdo é o que interessa.


ÂNGELO:
Para mim então o placar da comida foi:
sabor 10, visual 0.


ALBERTO:
Mas tinha de tudo o que você gosta, não?
Arroz, por exemplo.


ÂNGELO:
Gosma branca


ALBERTO:
Feijão


ÂNGELO:
Gosma Marrom


ALBERTO:
Legumes


ÂNGELO:
Gosmas de cores variadas


ALBERTO:
E de sobremesa..pudim.


ÂNGELO:
Gosma amarela, mas tava muito bom.
E agora? O que rola?


ALBERTO:
Sua vida, ela continua aqui, lembra?


ÂNGELO:
Você quer dizer o lance lá anotado na prancheta.


ALBERTO:
Isso mesmo. O lance da prancheta.
Isso por enquanto. Pra começar, ou recomeçar,
Você escolhe.


ÂNGELO:
Que bom que você está aqui, dando a maior força.


ALBERTO:
É o que os irmãos fazem.


ÂNGELO:
Você me perdoa?


ALBERTO:
Perdoar do que?


ÂNGELO:
É que eu tava pensando que não fui um bom irmão
pra você. Dei trabalho, implicava com você porque a Tia
gostava mais de você...


ALBERTO:
Dos dois, ela gostava dos dois.


ÂNGELO:
Tá certo mas na época eu não via desse jeito.


ALBERTO:
E o lance com a minha camisa?


ÂNGELO:
Camisa?


ALBERTO:
Camisa sim. Minha camisa salmão, ela era salmão, não
era rosa. Isso machuca viu? Nós gays primamos pelo
estilo, ai vem um e critica o figurino. Machuca, e
muito. Magoei. (faz beicinho)


ÂNGELO:
Nossa, não sabia que fazia tanta questão daquela
camisa, mas tudo bem. Me desculpa por chamar sua camisa
salmão de rosa.


ALBERTO:
Tá perdoado. Pode continuar.


ÂNGELO:
Continuar?


ALBERTO:
Com o pedido de desculpas, você não completou nem o
primeiro cabide dos modelitos do meu closet.


ÂNGELO:
É mesmo. Bom, continuando...


ALBERTO:
Para.


ÂNGELO:
Parar porque? Cê tava certo a lista é grande, viu.


ALBERTO:
Eu tava me divertindo com o seu pedido de desculpas,
bobinho, sinceras sim, porque eu percebi. Isso tudo são
coisas que faziam parte da nossa vida na Terra.
Já passou. Mas a sua vontade em reconhecer que falhou
nas suas atitudes, isso fica. É o que conta.


ÂNGELO:
Valeu mano.
Então nós estamos bem?


ALBERTO:
Muito bem.


ÂNGELO:
E agora?


ALBERTO:
E agora meu caro, a vida continua.                             

                  
Este não é o FIM


a vida continua

muito além daqui

Comentários

  1. A vida continua <3 aaaaaaaaaa

    Eu gostei bastante, no começo da história me lembrou um pouco O Nosso Lar, porém foi se afastando essa comparação. Gostei do final, espero que tenha uma segunda temporada mostrando essa evolução.

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