Muito Além da Vida | T01E03: "Tamanho Família"


Uma obra de: Ricardo Frugoli

Disponível no Google Drive / para baixar em PDF:


3º episódio
“Tamanho Família”

ÂNGELO:
Como? Ah não .... tô no andar de baixo? Agora piiiiii
(som de palavrão sendo abafado com microfonia) tudo
mesmo. Eu sou um piiiiii que fez muita piiiiiiiiiiii
piiiiiiiiiiii piiiiiiiiiii piiiiiiiii piiiiiiiiiii
piiiiiiii e deu no que deu. Pronto, xinguei.

ALBERTO:
Posso falar ou vai ficar dando chilique? Pra acalmar a
Mocinha: você não está no céu, mas também não está no
andar mais baixo. Você está em um centro de recuperação
que fica numa cidade espiritual. E iguais a esta aqui
existem centenas, milhares de outras.
Aqui é uma continuação da vida na terra, e a terra uma
continuação da vida que começa aqui.
Um ciclo,entende?(fala desenhando um círculo c/ o dedo)

ALBERTO:
Tá pensando que é só morrer que sobe direto
pro andar de cima? Só as celebrities.
Tipo Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá,
São Francisco de Assis, ah e se for mãe de juiz
de futebol.

ÂNGELO:
Mãe de juiz?

ALBERTO:
Tadinha delas né?. Elas tem até programa de milhagem.
Cada xingamento vai acumulando pontos pro céu.
Ai quando morrem sobem direto, sem escalas.
Tem velhinha que quando morre parece um foguete.

ÂNGELO:
Mas a gente não nasce na terra?

ALBERTO:
A gente renasce na terra. Várias e várias vezes até
resgatarmos o que fizemos para os outros e a nós mesmos.

ÂNGELO:
O tal lance da reencadernação.

ALBERTO:
Reencarnação. Esse lance mesmo. As famílias são formadas
aqui e depois lá na terra vão se encontrando e
integrando o núcleo familiar que foi combinado.
Os espíritos combinam as famílias que irão formar para
que um ajude no resgate dos problemas do outro e assim
todos consigam se recuperar juntos.

ÂNGELO:
Na teoria isso ai é muito bonito.
Mas no nosso caso foi um pouco diferente.

ALBERTO:
Diferente por quê?

ÂNGELO:
Os nossos pais morreram naquele acidente quando a gente
era criança. Ficamos sozinhos neste mundo.

ALBERTO:
Ficamos não. Fomos criados pela Tia Augusta com todo
amor. Esqueceu?

ÂNGELO:
Não era a mesma coisa. E você tá falando assim porque
era o queridinho, o preferido deles.

ALBERTO:
E você era a ovelha negra roqueira. O rebelde sem causa.
Ai que dó, como sofria...( fala em tom irônico )

ÂNGELO:
Olha quem fala, o queridinho que usava camisa pólo rosa,
ui.

ALBERTO:
Rosa não! Salmão.

ÂNGELO:
E pra combinar... calça cáqui e sapato com fivela
decorada de ba-ba-di-nho.

ALBERTO:
Não tenho culpa se a Tia gostava de caprichar no meu
visual.

ÂNGELO:
Mas não era só no visual.
Ela fazia todas as suas vontades.

ALBERTO:
E você tinha que ser o rebelde, não obedecia e vivia de
castigo. O que você precisa entender é que a Tia também
estava neste arranjo. Ela nos recebeu e cuidou como seus
próprios filhos. Foi sua missão na Terra, que ela assumiu
primeiro no plano espiritual.

ÂNGELO:
Mas falando na Tia, ela também já subiu pra cá?

ALBERTO:
Nada, vai completar gloriosos 85 aninhos lá na terra.

ÂNGELO:
Caramba, a velhinha enterrou nós 2 hem?

ALBERTO:
Bom, parece que em breve estará por aqui, ou próxima de
nós em algum centro de recuperação.

ÂNGELO:
Tá certo, mas agora me passou uma coisa na cabeça.
Ainda posso chamar isso aqui de cabeça né?

ALBERTO:
Pode.

ÂNGELO:
Nossos pais. Você tem notícias deles?

ALBERTO:
Tenho sim. Desde que voltaram para o plano espiritual
Ficaram esperando a nossa volta. Como te disse antes,
temos um vínculo familiar que vai além das ligações
feitas na Terra.

ÂNGELO:
E você encontrou com eles? Eles sabem que estou aqui?

ALBERTO:
Quando eu fiz a passagem a mamãe tava me esperando
no centro de acolhida. Ela me visitava sempre enquanto
eu me recuperava.

ÂNGELO:
E o nosso pai?

ALBERTO:
Ele também veio me ver diversas vezes, em horários
alternados, porque cada um tem suas funções e não podem
dispor dos 2 ao mesmo tempo. Sempre temos muito trabalho
pela frente, ajudando nossos irmãos espirituais. E eles
sabem que você está aqui, aliás, sabem de todos os lugares
por onde o senhor esteve, pois muitas vezes tentaram
intervir para evitar que o destino se cumprisse por causa
do seu estilo de vida inconseqüente.

ÂNGELO:
Nossa, eu não podia imaginar uma coisa assim.

ALBERTO:
Por isso te disse que nunca estivemos sozinhos nem
abandonados por eles.

ÂNGELO:
Mudando um pouco de assunto. E mulher, tem aqui?
Tô morto mas tou vivo né?

ALBERTO:
Ai meus sais. De novo com coisas da sua vida na Terra.
Tá bem, vou esclarecer. É claro que tem mulheres aqui.
Mas é diferente, a ligação, o que te atrai ao outro aqui
não funciona do mesmo jeito que na terra.
É uma coisa mais de alma mesmo.

ÂNGELO:
Ao outro? Você quer dizer outra né?

ALBERTO:
Não no meu caso.

ÂNGELO:
Como assim?

ALBERTO:
Vamos colocar desta forma. Não tenho a mesma apreciação
pelas mulheres que pelo gênero oposto a elas.

ÂNGELO:
Mas cê tá ligado que o gênero oposto são os caras.
Você me dizendo que..

ALBERTO:
Isso mesmo, eu sou gay e faz tempo.


FiM do 3ª episódio

continua

Comentários

  1. Parabéns pela ideia e pelas explicações e referências pertinentes ao assunto. Faltou descrição da cena e um pouco de ação por ser um roteiro, porém os diálogos são incríveis e um tom cômico.

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    Respostas
    1. Olá Deborah,
      Muito obrigado pelo comentário e por suas observações.
      Eu realmente procurei criar um conteúdo que falasse da
      espiritualidade com leveza e certo humor. Continue lendo
      os próximos episódios e me conta o que achou. ok?

      Abraços,
      Ricardo Frugoli

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