Lúcius | T01E11: "Rosas Vermelhas" [SEASON FINALE]


Uma obra de: Dolfenian Khallium






Sabe o que te diferencia de uma pessoa comum? Suas atitudes. Mas e se todas as atitudes são diferentes, somos iguais? Somos únicos.
Ele abriu seus olhos depois de se ver ajoelhado. Suas mãos vão de encontro ao chão. O impacto em sua cabeça foi muito forte. Teria sido atingido pela arma. Uma coronhada certamente dada na nuca de Nathanael.
O bandido está muito irritado, mais irritado do que nervoso. Mas ainda soa um pouco, agiu sem pensar, talvez até colocando a sua vida em risco.
Amanda é a mais assustada com toda a situação, igual Rafael, que pensa em alguma maneira de terminar toda essa tensão.
O sangue começa a escorrer da nuca de Nathanael, aquela pancada teria realmente doido. Mas ele é inocente demais para revidar. Isso de alguma forma irrita Lúcio, que sabe que precisa fazer algo.
Os dois jogam em times diferentes, mas ele sente a necessidade de fazer algo para que a situação não piore.
Fecha seus punhos se irritando mais ainda, Thais pensa em alguma estratégia enquanto tenta negociar com o bandido.
Rafael foi o primeiro a notar. Lúcio estava muito quieto, foi o que o entregou. Ele teme que seu amigo faça algo ruim, e sabe do que ele é capaz de fazer.
— Eu vou sair daqui, e não quero ver ninguém olhando pro meu rosto? — O bandido gagueja ainda apontando a arma para Nathanael.
— As leis do seu mundo não permitem que você saia dessa situação impune. — Nathanael comenta calmo.
— Já chega! Tô cansado dessa merda toda!
Os olhos de Amanda se arregalam quando o bandido destrava a arma deslizando rapidamente seu dedo pelo gatilho.
Ouve-se um barulho bem alto que assusta a todos de imediato. Com o susto eles fecham os olhos, um instinto rápido. A arma recua quase batendo na testa dele.
— Meu Deus! — Grita Rafael.
— Puta que pariu! — Thaís fala aos berros.
Nem mesmo o bandido tinha noção do que acabou de fazer. Ele sabe que agiu por impulso.
Mas algo aconteceu enquanto eles fecharam os olhos. É Lúcio. Está entre os dois. Suas mãos cobrem sua barriga como se ele escondesse algo. O garoto mal consegue abrir a boca para falar.
Foi quando Rafael e os outros viram aquela cena, e rapidamente ficaram horrorizados. O sangue começa a escorrer pelo chão, pinta as mãos do filho de Lúcifer.
— Não, não, não, não, não!
Rafael nem se preocupa com o bandido ainda apontando a arma. Corre em direção a Lúcio que está quase caindo no chão.
O responsável pelo tiro recolhe sua arma e tenta se retirar. Mas a ação imediata de Thaís após aquele choque é disparar um tiro em sua perna e algema-lo no chão. Não estava com paciência para burocracia.
Nathanael se levanta olha para ele e não acredita no que vê. Viveu para ver um demônio se sacrificar para salvar um anjo que ele nem mesmo gosta. Isso não é de sua natureza.
— Puta merda! — Grita Rafael.
Ele deita o corpo de Lúcio no chão que não consegue fazer outra coisa a não ser sorrir. A dor não parece ser tão grande quanto seu sorriso.
— Ajuda ele?! Vai! Você é um anjo, pode fazer essas coisas! — Rafael grita novamente.
Enquanto isso Amanda chama uma ambulância. Quase não consegue falar quando olha para aquela cena. O sangue de Lúcio se espalhando pelo chão.
— POR QUE VOCÊ NÃO AJUDA ELE! — Rafael grita novamente quase ficando sem voz.
— Eu... eu não posso fazer nada... desculpa... — Ele gagueja respondendo ainda chocado com a cena.
O bandido resmunga algumas coisas enquanto Thaís ainda está repleta de raiva.
— Como assim não pode fazer nada? Você pode... — Fala começando a chorar. — Você pode... por favor... você pode...
Mesmo em meio a toda essa situação tensa Lúcio continua a sorrir. Está deitado no chão. Só consegue ver o rosto de Rafael, e ainda age como se a dor não fizesse efeito.
— Por que você tá rindo? — Rafael pergunta não conseguindo conter muito o choro.
— Tá tudo bem... — Ele responde pegando na mão do garoto. Sua voz já está ficando mais fraca. — Eu estou feliz por você. É muito bom... reciproco...
Seus olhos começam a se fechar lentamente, a última coisa que Lúcio viu foi o rosto da pessoa que ele mais ama, e está feliz por saber que o seu amor foi correspondido.
— Não, não, Lúcio, olha pra mim! — Rafael dá uns tapas de leve no rosto dele. — Por favor, Lúcio abre os olhos. Fala pra mim que é só mais uma piada mórbida, por favor. Abre os olhos. Fala comigo. — Sua voz vai começando a falhar. As lágrimas caindo no rosto do corpo já sem vida de seu amado.
— Rafael... — Nathanael chama.
— Não! Me deixa! — Ele grita abraçando o corpo de Lúcio enquanto chora. — Eu te amo, Lúcio. Desculpa, me perdoa. Por favor. Eu te amo. Volta pra mim. Por favor!
Rafael ergue a cabeça para dar um grito bem alto. Um grito de raiva, um grito libertador. O coitado não merece passar por isso.
Nathanael puxa Rafael para abraça-lo. Amanda desliga o celular quando vê que Lúcio já não está mais vivo. Thaís cobre seu rosto com as mãos, chocada com o que acabou de acontecer.
É um abraço bem forte. Rafael quase se afoga em seu choro. Não aguenta ver a cena do amor de sua vida ali no chão sem vida. Não aceita que nunca mais vai poder vê-lo.
— Fala pra mim que é uma pegadinha... Só fala...
— Desculpa...
▲▲▲
Alguns dias depois
É um dia ensolarado no cemitério vertical de Curitiba. Algumas poucas pessoas estão vestidas de preto ao redor do tumulo de Lúcio. São todos conhecidos. É um momento muito triste, principalmente para Rafael, que recebe o apoio de todos e mesmo assim ainda sofre.
Está se acabando no choro. Amanda, Thaís, João e Nathanael são alguns dos presentes no funeral. Os pais de Rafael também estão lá, e em choque com a notícia recente. O último a chegar foi o terapeuta que não acreditou na história até ver o enterro.
O padre faz algumas considerações finais falando do falecido enquanto muitos se seguram para não soltarem uma lágrima.
— Lúcio podia não ter sido um jovem de muitos amigos, e talvez nem tão amado por todos, mas era muito fiel a seus verdadeiros amigos. Seu senso de humor era uma de suas características mais marcantes. Um jovem que tinha toda uma longa vida pela frente. Mas ele ainda está aqui conosco, em espírito.
Rafael se voluntaria a dizer algumas palavras. Carrega algumas rosas vermelhas.
— Conhecendo bem ele, eu sei que ele não gostaria de ser recebido por um padre, mas Lúcio sempre foi uma pessoa que me apoiou em tudo. Um dos únicos que me aceitava pela pessoa que eu sou. Que sabia dos meus problemas e ainda sim me amava. Ele era mais do que um amigo para mim. Mas eu nunca tive a chance de dizer para ele as palavras certas. Passamos longos anos juntos, e eu nunca soube o que eu realmente sentia. E quando eu finalmente descobri, não tive a chance de dizer. — Ele faz uma pausa para respirar fundo. — Eu só queria dizer que, Lúcio, se estiver aí em algum lugar, eu quero que saiba que eu te amo, sempre te amei e sempre vou te amar...
Ele joga as rosas sobre o caixão junto com os primeiros grãos de areia. Algumas lágrimas caem também. O resto do enterro foi assim, em silêncio.
O que Rafael não sabia é que havia realmente alguém ali. Lúcio, escondido atrás de algumas árvores bem afastado. Em espirito. Olhava tudo aquilo com um sorriso em seu rosto. Mesmo sorrindo, ele fica emocionado ao ver todos ali. Ouviu o que Rafael disse, toda a sua revelação. Viu João abraçado a Nathanael, finalmente interagindo com alguém. Amanda tentando seguir seu próprio rumo sem medo algum. E Thaís dando seu maior apoio.
— Sabe que precisa ir agora, não é, filho? — O pai de Lucio fala sem expressão alguma.
— Existe alguma chance de eu reencontrar todos eles futuramente? — Ele pergunta.
— Não sei o que você consegue ver de tão interessante neles... — Faz uma pausa. — Mas, tudo é possível...
Uma última risada antes de uma última lágrima é dada. Risada essa que chamou somente atenção de Rafael. O mesmo rapidamente olhou para as árvores, mas não viu o que esperava. A ideia de que tudo fosse uma pegadinha já não era mais real.

CONTINUA...

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